domingo, 31 de março de 2013

Sou ou Estou?

Olá amigos leitores
Hoje vou falar um pouco de Programação Neuro-Linguística, espero que gostem.
A Programação Neuro-Linguística – PNL – mostra como as pessoas se escondem atrás de seus preconceitos para tentarem explicar ou justificar suas atitudes e/ou decisões impulsivas.
Sempre que uma pessoa afirma, confiantemente, "eu sou assim...", ela está simplesmente procurando uma desculpa para um comportamento que ela própria sabe não ser o melhor. Quando faltam argumentos e uma razão real, objetiva e emocionalmente integrada, alguns somente repetem o velho e "seguro" chavão: "eu sou assim..." e continuam a fazer as coisas da mesma forma. Isso é chamado de “crença no determinismo genético”. Quem diz isso se protege ou isenta de qualquer responsabilidade sobre si mesmo, jogando a "culpa" na genética ou em Deus, como se a própria pessoa não tivesse meios de alterar sua vida.
Existe um meio melhor.
Quem diz “eu sou assim...”, faz de conta que não está pensando, faz de conta que não possui liberdade de escolha, faz de conta que há algo programado dentro dela, e que não existem meios de alterar essa programação.
A grande maioria das pessoas que insistem em dizer “eu sou assim...”, têm medo ou receio de mudar e são complacentes com elas próprias, agindo como um avestruz, colocando a cabeça em um buraco no chão.
Devemos então buscar outra abordagem ou foco para modificar essa forma de crença e podemos fazer isso olhando do ponto de que nós nunca "somos" coisa alguma. Sempre estamos. Estamos jovens, estamos sadios, estamos acordados, estamos educados, estamos esforçados, estamos atentos, estamos felizes e assim por diante.
O que "está" pode ser mudado, mas o que "é" não pode.
Há uma enorme diferença entre "ser e estar". Quando dizemos que estamos sem dinheiro, estamos solitários, estamos tristes, estamos sem imaginação, estamos com problemas e etc. deixamos claro para os outros (e para nós mesmos) que esta é uma condição momentânea ou transitória e que estamos procurando fazer algo para mudar essa condição. Dizer: "eu estou acima do peso" é muito diferente de dizer "eu sou gordo".
Quando o dependente químico/alcoólatra afirma “eu sou um...” ele está assumindo e definindo uma condição de vida que independe de sua vontade. Sou dependente químico/alcoólatra: é uma condição imutável.
Mais quando afirmam estarem em busca de recuperação: definem uma condição transitória e que estão fazendo algo para modificar essa condição imutável.
Como foi falado acima sobre estarmos programados por dentro no caso da dependência devemos levar em consideração que muitos estudos apontam na doença um fator genético ou hereditário e também incurável (imutável) mas isso não define que se está condenado a viver de forma ativa a doença.
Em muitos casos o dependente químico e/ou alcoólatra se agarra a essa crença de que não pode fazer nada porque o problema não tem solução, ou melhor, a doença não tem cura, assim jogando a culpa sobre a doença, sobre essa crença genética e consecutivamente em Deus como foi antes falado.
Dependentes, familiares e amigos escutem o que vocês dizem para os outros e para sua própria mente. Se você disser algo começando com a frase "eu sou assim mesmo..." verifique imediatamente se não está somente tentando explicar o inexplicável para seu próprio coração. Não tente se enganar, porque, no fundo, você vai saber que é uma afirmação falsa.
Somente quem muda, sobrevive. Questione como William Shakespeare: "Ser ou Não Ser? Eis a questão".
A resposta pode valer sua vida.

Feliz Páscoa e boa semana a todos. Até o próximo post.
Deixem seus comentários. Para comentar aperte no link comentários ou nenhum comentário no final do post.


segunda-feira, 25 de março de 2013

Como identificar um dependente

Olá Meus Amigos
Primeiramente gostaria de agradecer a todos vocês que me ajudaram a divulgar o blog e por termos atingido mais de 1.000 visitas em 45 dias. Por isso acredito estar indo pelo caminho certo.
Reafirmo que a ajuda de vocês é muito importante para mim, não só para a divulgação ou compartilhamento e sim com suas ideias sobre assuntos, enquetes, depoimentos e até mesmo seus comentários sobre as postagens.
Estou muito feliz pelo sucesso do blog por isso vamos continuar em frente.
Novamente obrigado a todos.

ODQ – Um Novo Rumo

Ontem assistindo a uma reportagem sobre transtorno pensei em hoje dedicar um post mais voltado a família e interessados no assunto falando sobre como identificar um bebedor ou usuário de risco.
Sabemos muito bem que existem muitas pessoas que consomem álcool ou drogas mas isso não afeta sua vida diária, ou pelo menos é o que se pensa.
Um dependente químico ou alcoolista jamais conseguirá fazer um consumo recreativo ou social por causa da dependência.
Observamos que a grande maioria das pessoas restringe o consumo a situações específicas como festas, baladas, eventos sociais e o famoso happy hour.
O que não acontece ao dependente que na sua grande maioria faz um consumo diário de álcool/drogas.
Outra observação que acho pertinente fazer é que o alcoolismo é cultivado por anos de consumo de bebidas enquanto a dependência química pode requerer apenas a experimentação da droga para se tornar um problema maior.
Como podemos identificar então as pessoas que estão em risco de se tornarem dependentes?

No caso do álcool
- aumento de tolerância, isto é aumentar o consumo e demorar mais para sentir os efeitos do álcool;
- beber mais que o planejado;
- reduzir ou interromper atividades importantes por causa do álcool;
- falta de apetite;
- achar que a bebida é um remédio;
- crises de abstinência;
- Ansiedade;
- irritabilidade;
- esquecimento;
- confusão;
- aparência descuidada;
- tremores entre outros.
Faça a seguinte proposta de ficar 15 dias sem consumir álcool independente dos compromissos que venha a ter e observe os resultados, se não conseguir ficar sem beber por qualquer motivo ou situação o então negócio está bem difícil.

No caso das drogas
O comportamento é o principal aspecto a ser analisado pelos familiares que desconfiam que alguém da família esteja entrando para o mundo das drogas. Quando a dependência está surgindo, mudanças comportamentais costumam acontecer. Algumas delas são:
- mudanças comportamentais bruscas;
- Abandono de hábitos ou atividades rotineiras inclusive as familiares;
- Aumento de agressividade e irritabilidade;
- Dificuldades em concentrar-se em qualquer atividade;
- mentiras constantes;
- Falta de apetite (cocaína, crack) ou apetite exagerado (maconha);
- descuido com a aparência;
- desaparecimentos misteriosos de pertences da pessoa ou de outros, objetos do lar e dinheiro em qualquer quantia;
- no caso de drogas como cocaína e crack observar a perda brusca de peso sem motivação aparente;
- olhos vermelhos ou olheiras no caso da maconha ou arregalados no caso de cocaína e crack;
- coriza nasal constante (Cocaína);
- armazenamentos de cinzas de cigarro (crack);
Os sintomas e indícios são muitos e espero ter podido ajudar com essas informações, decidi falar sobre o assunto por ontem ter ouvido na reportagem o quanto é importante se diagnosticar um problema o quanto antes e assim poder o mais rápido possível entrar com medidas para que o problema não tome uma maior proporção.

Por motivos operacionais e facilitar a divulgação de novas postagens gostaria que as pessoas que leem ou lerem o blog e quiserem acompanhar as postagens me solicitassem adicionamento pelo google+ ulysses.sph5@gmail.com.

Obrigado a todos e até o próximo post.
Comentem e divulguem.

domingo, 17 de março de 2013

Mudanças: será mesmo preciso?

Olá para vocês...
Quero falar o que ando pensando ultimamente sobre a vida, seus sofrimentos e dificuldades.
Que difícil hein? A vida e seus sofrimentos!
Sabe vivo o dia a dia da dependência química e sempre acredito que alguma coisa vai mudar, mais dificilmente muda. É sempre a mesma coisa, destruição sobre destruição.
O dependente sofre, a família sofre todo mundo sofre.
Creio estar sofrendo também, sofro por não conseguir mudar as coisas, por muitas vezes não conseguir entender o sofrimento tanto meu quanto dos outros, sofro por não conseguir ajudar e por também ver constantemente que muitos não querem ajuda.
Muitos querem somente remendar suas vidas, fazer reformas externas que não vão resolver os problemas de estrutura. É como se fossemos um edifício com rachaduras por todos os lados e acharmos que apenas passar uma mão de tinta vai resolver, no final fica uma coisa tipo sepulcro caiado, bonito por fora e feio por dentro.
O engraçado é que na maioria das vezes reagimos assim mesmo, todos nós.
As mudanças tem que vir de dentro para fora e não ao contrário, porque senão se tornam apenas soluções temporárias para nós. Mudar o cabelo ou comprar uma roupa nova pode nos trazer durante um tempo um bem estar ou elevar a estima mais não vai resolver o problema com relação ao sentimento interno de desvalorização pessoal.
Comprar um super carro, uma mega casa ou apartamento, aparelhos eletrônicos de última geração também não vão mudar a verdade de si mesmo, vão apenas mascarar.
Tudo isso já foi feito antes, sempre deu o mesmo resultado, a única forma é fazermos essas mudanças.
Como fazê-las provavelmente você está se perguntando?
Uma autoanálise é o ponto de partida, olhar o que gosta e não gosta em sua vida, quando as tiver descoberto o ideal é amplificar o que gosta e entrar com medidas para reverter o que não gosta.
Existem diferentes formas de analisar esses pontos satisfatórios e insatisfatórios que podemos dividir em 2 categorias em internos e externos.
Os fatores internos estão ligados a forma como se vê e interage com você e os externos em como fatores externos a você interfere em você externa e internamente.
Os fatores internos negativos geralmente estão relacionados a: baixa estima, desmotivação, vergonha de algo em si mesmo, sentimentos de raiva, frustração ou medos e por ai vai, como por exemplo vergonha do corpo, medo da rejeição, medo do fracasso, raiva de tudo e de todos, não se achar capaz e etc.
Os fatores externos negativos que influenciam internamente na grande maioria estão relacionados a: disfunções familiares, profissionais, relacionamentos, materialismo muitas outras coisas, por exemplo não gostar de seu trabalho, de sua casa, da forma como é tratada pelos outros, preocupações excessivas com a aparência e etc.
Olhando agora os pontos separadamente e seus exemplos podemos perceber que eles se cruzam e/ou se fundem o tempo todo. O maior exemplo que posso dar deste cruzamento ou fusão é a frustração e raiva que tanto o dependente químico quanto nós sentimos (fator interno) por insistentemente tentarmos modificar ou controlar o outro (fator externo) e em minha experiencia vejo que este é um dos maiores sofrimentos pelo qual passamos muito constantemente na vida e no dia a dia. 
Os fatores internos e externos primeiramente são combatidos com aceitação deles, depois se deve entrar com maior valorização pessoal no caso dos internos e nos externos entrar com medidas que possam modificá-los externa e internamente.
Existe uma formula muito boa para os conflitos internos chamada terapia do espelho e funciona assim, fique de frente para um espelho e comece a falar com você sobre o que não gosta e também a dizer o que você gosta, diga frases do tipo “não gosto disto, não gosto daquilo, não vou mais me permitir isso ou aquilo, diga também que você é especial, capaz, lindo(a) e até mesmo “Eu te Amo”. Tente por algum tempo fazer isso e veja o resultado da elevação da autoestima.
Nos caso dos externos tome ações que mude o que está sentindo, algumas coisas podem ser resolvidas também através da terapia do espelho mais em alguns casos deve-se mudar alguma coisas de forma mais direta e real. Por exemplo, mudar de emprego para algo que goste de fazer, mudar um relacionamento que não está bem, parar de se preocupar insistentemente de forma materialista e por ai vai.
Temos que buscar gerar prazer em nós de forma assertiva, isto é, se valorizando como seres humanos  mudando fatores internos e externos em igual proporção.
Como falei no início temos o defeito de apenas modificar o externo e não dar atenção ao interno, o dependente químico principalmente tenta o tempo todo modificar o externo, e se esquece ou até mesmo abandona o interno. Os motivos são muitos para isso e já foram citados alguns aqui como a vergonha, culpa, medo, imaturidade e outros e todos eles levam o dependente a não vivenciar a realidade que tem que aceitar, como diz um slogam famoso “a dor é inevitável o sofrimento é opcional” e é disso que não só dependente tem medo mais todos nós, medo da dor.
A dor da culpa, do remorso, da frustração, do desalento, da solidão, do abandono, do fracasso, da mudança e etc.
Temos que lutar contra a nossa dor, enfrentá-la e vencê-la.
Para terminar desejo á todos vocês meus amigos muito sucesso nesse processo doloroso conhecido como “crescimento” que dói e dói muito deixo também esta fantástica frase para reflexão: “somente quando à dor de permanecermos o mesmo for maior que a da mudança, poderemos mudar”

Boa semana a todos e até o próximo post.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Experiências Pessoais

Olá meus amigos leitores hoje vou postar algo diferente do habitual, tenho em minha posse um depoimento de uma pessoa que me enviou um e-mail desejando compartilhar sua experiência no assunto e também uma entrevista feita com um adicto que se propôs também a relatar sua experiência com a dependência química e sua recuperação. Espero que gostem.

Depoimento da X


Olá Ulysses, meu nome é X e gostaria de compartilhar com você e os leitores do seu blog, minha experiência em relação ao tema (Adicto/co-dependência) resumidamente. Para falar a verdade quando me propus a escrever este depoimento achei que seria fácil, porém tive um pouco de dificuldade de encarar estas questões ou de “me encarar”, mas vamos lá...Nasci numa família bem grande, com vários irmãos e fomos criados entre tios, primos e sobrinhos... Tudo junto e misturado. Para nós a bebida era uma coisa normal, cresci vendo meu pai chegar bêbado e sempre agressivo com a gente e principalmente com a minha mãe! Então beber cedo foi normal para todos nós, eu mesma sempre me relacionei com pessoas que bebiam ou usavam drogas, pessoas não muito carinhosas ou problemáticas ou carentes de alguma forma porque eu só sabia lidar com estas pessoas e me sentia em casa! Quando conheci meu atual relacionamento, começamos a sair, beber e claro, sem muitas surpresas, logo veio a noticia de que ele usava drogas! Que pra mim não foi problema, porque eu achava que sabia lidar com pessoas problemática, neste período tivemos vários afastamentos devido á internações  e recaídas mas eu sempre achava que as coisas um dia iam melhorar, e com isso aceitava o uso de drogas na minha frente e até facilitava para ele o acesso, justamente por falta de conhecimento e por achar que estava o ajudando. Esta situação durou anos até que ele chegou ao fundo do poço dele e com sua própria força hoje esta sem usar há alguns anos! No começo da recuperação dele tive muita dificuldade de lidar com a falta da bebida, das loucuras, pois fazíamos tudo juntos, demorei até entender que também tenho um problema, o que me ajudou muito foi acompanha-lo nas reuniões do NA porque assim pude entender que o vício é uma doença, e fui procurar ajuda em grupo específico para mim o Amor Exigente e NAR-ANON, acredito que quando criamos a consciência e conhecimento do problema fica mais fácil de reagirmos. Tenho dois irmãos alcoólatras e uma irmã que está indo para o mesmo caminho, e se toda minha família criasse esta consciência seria mais fácil ajuda-los. O que percebo é que quanto mais cedo temos contato com drogas/álcool o caminho para eles se torna inevitável e isto é muito real. Obrigada pela ajuda e divulgação do problema que ainda é considerado tabu dentro das famílias.

X – 42 anos
São Paulo

Entrevista com B

ODQ – Bom gostaria que você iniciasse dizendo quem é você, como era sua vida e o que levou você a se interessar pela droga?
B – Meu nome é B, tenho 27 anos e eu sou um adicto em recuperação. Não faço uso de drogas há 3 anos e dois meses. Sou filho único de uma família que sempre considerei normal. Haviam brigas e confusões dentro de casa e eram constantes essas brigas quase sempre por constantemente morar algum parente do meu pai em casa. Essas pessoas bebiam em casa, mas nunca foi de forma abusiva, era mais em festas e não me lembro de algo significativo relacionado a isso. Existia muito abuso verbal, meus pais sempre se ofendiam muito nessas brigas, quebravam coisas em casa, mas nunca se agrediram ou a mim fisicamente. Essas brigas acabaram por me afastar cada vez mais dos dois, sentia raiva tanto da minha mãe quanto do meu pai que já é falecido, sempre havia a eminencia do divorcio, ouvia esse papo pelo menos uma vez ao mês e demorou muito tempo para que isso de fato acontecesse. Como desde cedo tinha muita dificuldade em me aceitar como era um menino tímido, bom aluno e comportado, o sobrinho favorito das minhas tias e aluno favorito das professoras nos primeiros anos na escola, nunca gostei disso, sempre quis ser como um dos meus primos, que aterrorizavam a família quando chegava, eu queria ser assim e com essas brigas constantes minhas insatisfações e decepções comecei a buscar meus heróis em outras figuras, que quase sempre eram vilões, seja na minha rua, na escola, em filmes e na musica, comecei a me interessar pelo errado, pelo mal a torcer para o bandido e não pelo mocinho. Acredito que tenha sido essas coisas que me levaram a ter interesse pela droga.Meu Primeiro contato com a droga foi “mágico”, consegui encontrar exatamente o que buscava, me tirava de minha realidade, alterava minha percepção e de quebra dava um tapa na cara de todos que me achavam “bonzinho”.No inicio eu usava em alguns eventos, para fazer determinadas coisas, depois passei a usar para fazer tudo e terminando parando de fazer tudo e fiquei usando, nunca tive nenhuma descriminação com nenhum tipo de droga.Comecei com o álcool, passei para a maconha, depois parti para a cocaína até chegar ao crack meu fundo de poço.

ODQ - Você passou por algum tipo de tratamento?
B – Passei por uma internação, não por decisão própria, mas por intervenção de minha mãe e minha namorada. Quando disse que estava usando (só eu achava que isso era um segredo), elas ficaram do meu lado e me ofereceram essa oportunidade, uma pessoa ligada a minha namorada, um adicto em recuperação foi até nós para apresentar algumas opções. Apesar de ter resistido e garantido a mim mesmo que não iria usar isso durou poucos dias e tive mesmo de ser internado.

ODQ - Como foi saber que era um adicto/alcoólatra?
B – A princípio é claro que neguei e disse a mim mesmo que era diferente daquelas pessoas que estavam internadas comigo, e que eu não era a pessoa que os terapeutas descreviam, eu na verdade tinha muito medo de viver algo que fosse diferente do que já conhecia. Como eu podia viver sem a coisa mais importante da minha vida? Absurda essa pergunta mais era essa a importância da droga na minha vida, e mais fazia tudo por “só mais uma”. Depois de alguns dias na instituição as coisas foram se acalmando dentro da minha cabeça e comecei a sentir certo alivio em saber que eu não era o mal caráter que imaginava e que muitos falavam que eu era, mas era portador de uma doença física, mental e emocional, a adicção.

ODQ - Você teve alguma recaída?
B – Aceitei apenas algumas coisas, eu não acreditava que álcool fosse um problema para mim, quando sai da internação, por indicação dos terapeutas procurei um grupo anônimo, eu me tornei membro de NA. Fui muito bem recebido e me disseram que eu era a pessoa mais importante na reunião, criei o habito de frequentar as reuniões que me ajudavam muito, mas ainda assim não engolia o papo de “Álcool é droga”, pra mim parecia muito radical e nunca tinha tido problemas com álcool, pelo menos era disso que tentei me convencer, poucos dias depois de sair da internação, na noite de natal, algumas pessoas estavam bebendo na porta da empresa onde trabalhava, eu sabia que deveria passa direto e evitar aquelas pessoas, mas não o fiz parei e acabei bebendo, nos dias seguintes senti muita vontade de usar, mas não usei, então me convenci de que deveria ficar algum tempo sem beber, minha ideia: uns seis meses”. Foi aí que em uma das reuniões de NA ouvi um companheiro partilhando sobre sua experiência, que era alcoólatra e que ficou anos sem beber, frequentando AA, mas passou a usar drogas, logo imaginei o que estava me esperando com esse pensamento de voltar a beber e desde aquele natal eu não uso álcool ou drogas.

ODQ - Como está agora limpo, em recuperação?
B – É uma fase totalmente nova da minha vida, hoje eu tenho a verdadeira liberdade de ser eu mesmo, de não precisar alterar meu humor com nenhuma substancia, para diminuir a dor ou aumentar minha euforia, hoje eu sinto coisas de verdade, meu sorriso e minha lagrima são verdadeiras e espontâneas. Já não passo madrugadas pela rua ou enfiado dentro do meu quarto, trancado e com medo de alguém entrar, esse era meu maior pesadelo, uma prisão que eu havia criado pra mim mesmo, dentro da minha cabeça. Hoje eu sou filho, namorado, profissional, aluno e adicto em recuperação. Experimento todas as coisas que um dia me oferece, sejam elas positivas ou negativas, estou me tornando uma pessoa muito mais feliz do que imaginei que conseguiria, hoje meu mundo não esta mais restrito aquelas ruas, becos e ao meu quarto trancado, hoje eu sou livre para praticar uma maneira totalmente nova de viver e isso é muito gratificante.

ODQ - Como vive seu dia a dia de recuperação?
B – Eu vivo um dia de cada vez e tento manter as coisas simples (o que é bem difícil pra um cara como eu). Frequento reuniões regularmente, fiz novos amigos dentro de NA, pessoas que como eu buscam esse estilo de vida, sem drogas ou álcool, pessoas em recuperação. A maioria das coisas que dão certo são as que disseram no inicio do meu processo de recuperação e que trago até hoje em minha vida, eu evito pessoas, lugares e hábitos da época em que usava, qualquer coisa que possa me levar de volta ao uso eu afasto e mantenho longe da minha vida. Tenho um padrinho, que é alguém com maior experiência que a minha e que me ajuda a trabalhar o programa de NA. Hoje eu sirvo a irmandade de Narcóticos Anônimos e levo a mensagem a outros adictos que ainda sofrem nos horrores da adicção, a mensagem é “Um adicto, qualquer adicto, pode parar de usar, perder o desejo de usar e encontrar uma nova forma de vida”. Todos os dias eu tento ser mais honesto, principalmente comigo mesmo, mais paciente com as pessoas com quem eu convivo ser menos egoísta e claro não uso haja o que houver! Esse programa de NA me deu uma nova visão do que é a vida e de como eu de fato quero vive-la e só por hoje vem dando certo, trabalho, namoro e melhorei meu relacionamento com minha família principalmente minha mãe. Hoje eu tenho vontade de viver e não de usar que para mim é a morte, mesmo que eu continue vivo.

ODQ - o que gostaria de falar sobre você ou qual mensagem gostaria de passar para as pessoas?
B – Que a recuperação é possível e que existem muitos meios de se chegar a ela, o que relatei foi o que deu certo pra mime vem funcionando para milhares de outras pessoas, centenas eu conheço pessoalmente e tenho certeza que falariam algo muito parecido com o que te disse. Nós realmente nos recuperamos e só por hoje eu não vou usar e vou ser muito feliz.

B – 27 anos
São Paulo

Considerações Finais

Observando tanto o relato de X como a entrevista de B fica claro que o ambiente familiar disfuncional colabora em muito para a vivência da experiência com a dependência química.
As famílias que tem por costume o consumo de álcool seja social ou não induzem á criança a esse mundo, pois a criança aprende observando os pais e os mais velhos e entende que ela beber vai fazer dela um "adulto".
Em ambientes de violência (verbal e/ou física) por motivação de álcool ou não a tendência dessa criança ou adolescente enxergar a vida através das ações de seus pais ou dos mais velhos é muito grande, passa a pensar que isso é assim mesmo e depois com passa a repetir esses padrões nas suas vidas pois a repetição é o forma primária de aprendizado do ser humano e se manifesta de forma instintiva nas pessoas.
Essa repetição fez com que X buscasse em seus relacionamentos pessoais, pessoas parecidas com a de seu lar por se tratar de algo que ela já conhecia e pensava saber lidar.
Para B não foi muito diferente com a visual desilusão com seus heróis (pai e mãe) passou a se interessar pelo ruim por achar que essa era sua melhor escolha e quanto mais se encontrou ali mais fácil era de suportar aquila realidade.

Agradeço imensamente a colaboração de X e B creio ter sido de muita importância para os leitores do blog. Obrigado por compartilhar suas vivências e desejo não só a vocês mas a todos muitas alegrias em suas jornadas pessoais.
Recuperação a todos!

Boa semana a todos e até o próximo post.

OBS: Por favor não deixe de comentar é muito importante seu retorno.



domingo, 3 de março de 2013

Aceitação é a solução

Aceitação é a solução para todos nós. Independente do problema que se vive aceitar que isso é real pode abrir uma porta para a solução do mesmo.
No nosso caso aceitar que estamos sofrendo por causa da dependência química ou alcoolismo próprio ou de alguém que amamos pode nos ajudar a abrir a porta da busca de ajuda para resolver o problema.
Qual é o problema então?
O problema é a negação, ela nos impede de ver as coisas como realmente são. Para a maioria dos seres humanos a negação é um ato quase que natural, passamos por diversas situações na vida que nos remetem a ela e ela nos protege da verdade que não queremos assumir, sentir ou encarar como, por exemplo, a morte de alguém, perceber e assumir erros, que o problema é nosso sim, que isso não podia ter acontecido e por ai vai.
Para o dependente químico e alcoolista a negação defende ele da responsabilidade de tomar uma atitude sobre seu uso compulsivo. Nega o problema mesmo que isso esteja claro e evidente para ele, assim ele se protege de se sentir um fracassado ou impotente.
Para os familiares e amigos essa negação os impede de ver que existe algo de errado com aquela pessoa amada, que isso não está acontecendo com você, na sua família ou mesmo que isso não está acontecendo ao mundo todo e que sua atenção ao assunto é de suma importância.
Existe um formato de proteção do EU que os seres humanos utilizam quase que instintivamente por diversos motivos ou situação, independentemente de qual seja ela, esta proteção alimenta essa negação e esta proteção é conhecida por barreiras de negação e é composta por 8 pontos que funcionam assim:


1 – Repreensão – protege do medo de ser repreendido pela família ou pela sociedade tanto por parte do dependente/alcoolista como para familiares e amigos.
2 – Minimização – o problema é minimizado pelo dependente e pela família.
3 – Justificativas – justificam o problema baseando-se em fatos pregressos ou cotidianos tanto de âmbito cognitivo, pessoal ou mesmo social.
4 – Mentiras – nega o problema, mente sobre o real tamanho do problema, defendem-se da verdade.
5 – Projeção – projetam nos outros ou em situações reais ou não do presente ou do passado o causador desses problemas.
6 – Racionalização – buscam explicações racionais para suas justificativas e mentiras.
7 – Apagamentos  – negam por se esquecerem dos fatos (mais por parte do dependente que sobre efeito principalmente de álcool reduzem sua capacidade de memória)
8 – Memória Eufórica – sempre se lembram dos momentos bons, da euforia, da festividade e outros.

A aceitação é a única solução para quebrar essas barreiras, ela demanda muita coragem e honestidade por parte do dependente/alcoolista e dos familiares e amigos.
Negar o fato que o problema existe só vai dar margem ao problema se agravar, lembre-se ou aprenda que a doença é progressiva e ela progride sempre para pior.
Esconder o problema não vai resolver nada, você vai continuar sofrendo sozinho(a) quando o melhor é compartilhar, tem um frase que deixa claro isso: “sofrimento compartilhado, sofrimento diminuído”, ou mesmo “a dor não pode ser evitada, o sofrimento sim”.
Se estiver com problemas, simplesmente aceite que você precisa de ajuda para resolvê-los, sejam eles quais forem. Como falei em uma de minhas postagens anteriores “Porque?” existem pessoas dispostas a ajudar e compartilhar suas experiência, não deixe de utilizar essa poderosa ferramenta.

Boa semana a todos até o próximo post.

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