Não há medidas simples para mudança de comportamento de
dependentes químicos. E cada vez mais, pesquisadores profissionais que
atuam nesta área, buscam maneiras eficazes de atuação no tratamento da doença
da dependência química. No entanto, nos últimos anos, houve uma grande evolução
no conhecimento no que tange ao processo de mudança e na descoberta de
estratégias de intervenção efetivas na promoção da mudança desse comportamento
e na eficácia de tratamento.
A Entrevista Motivacional (EM) consiste em uma abordagem
eficaz para promoção da mudança do comportamento em favor de um estilo de vida
saudável e produtivo. Agregando valor, valores e valorização.
Original pelos psicólogos Willian Miller e Stephen Rollnick
na década de 1990, essa abordagem psicológica, consiste na habilidade que tem
por objetivo evocar as motivações internas para promover mudanças
comportamentais de acordo com os interesses que o indivíduo tem na melhoria de
sua saúde promovendo as relações sociais.
A Entrevista Motivacional (EM) surgiu a partir de
experiências clínicas com pessoas que apresentavam problemas com o álcool,
sendo logo experimentadas no tratamento de diversos outros transtornos em
várias partes do mundo com resultados positivos. Está fundamentada nos
conceitos de motivação, ambivalência e prontidão para mudança, e recebeu
influências de outras abordagens tradicionais, como as de aconselhamento,
terapia cognitivo-comportamental (TCC), teoria sistêmica e psicologia social.
Possui metodologia prática e objetiva que permite ser aplicada por profissional qualificado e absorvida pelo indivíduo de forma empática, motivadora, colaborativa e não quantitativa. Possibilitando o reconhecimento das potencialidades do indivíduo, e promovendo a capacidade de estruturação de mudanças positivas em sua vida pessoal com a evocação de valores esquecidos como: respeito, responsabilidade, atitude e valorização da vida.
Possui metodologia prática e objetiva que permite ser aplicada por profissional qualificado e absorvida pelo indivíduo de forma empática, motivadora, colaborativa e não quantitativa. Possibilitando o reconhecimento das potencialidades do indivíduo, e promovendo a capacidade de estruturação de mudanças positivas em sua vida pessoal com a evocação de valores esquecidos como: respeito, responsabilidade, atitude e valorização da vida.
A essência da EM implica na presença de três atitudes
preponderantes do profissional em relação ao seu cliente (paciente): colaboração,
evocação e respeito pela autonomia do indivíduo.
• Colaboração: diz respeito à parceria cooperativa
que deve haver entre o profissional e o cliente (paciente). O diálogo
estabelece de forma colaborativa, ativa e o processo decisório é feito em conjunto,
que somente o cliente (paciente) poderá efetuar a mudança.
• Evocação: consiste em ativar a motivação do cliente
(paciente). Sendo assim, o profissional parte de valores, interesses e
perspectivas de seu cliente (paciente), propiciando um ambiente estimulante.
• O respeito pela autonomia: requer a aceitação de
que o indivíduo pode e deve fazer as escolhas sobre a direção de sua vida.
Os profissionais podem informar, advertir, aconselhar.
Porém, é o cliente (paciente) quem vai decidir o que, quando e como fazer.
Reconhecer e respeitar essa autonomia são elementos fundamentais para
identificar e facilitar a mudança do comportamento relacionado ao discernimento
cognitivo e comportamental. Faz parte da essência da Entrevista Motivacional
reconhecer que o indivíduo tem competências, recursos, capacidade e força
própria para fazer uma mudança em sua vida. Ela auxilia também em propiciar a
resolução da ambivalência, ou seja, a existência de sentimentos conflitantes e
opostos em relação à mudança, o que é considerado normal. Deve-se sempre
respeitar em primeiro lugar a autonomia do cliente (paciente). Em qualquer
mudança importante na vida, a ocorrência da ambivalência é esperada e estará
sempre presente em praticamente todas as fases do tratamento. O trabalho realizado
conforme os princípios da Entrevista Motivacional, deve inspirar a mudança e
fortalecer o compromisso, e certamente envolve o funcionamento de todas as
nossas emoções, incluindo a capacidade de amar, ter esperança, interesse,
compaixão e alegria.
METODOLOGIA DA ENTREVISTA MOTIVACIONAL
Consiste na utilização de reflexões, reforços positivos,
resumos e perguntas abertas em uma relação 2 e 1, ou seja, a utilização de pelo
menos duas estratégias para cada pergunta. Esse método foi desenvolvido para auxiliar
o profissional a estruturar seu diálogo com o cliente (paciente), permitindo
que ele possa falar ao máximo o que se sente em relação ao comportamento
prejudicial e à possibilidade de mudá-lo. Conhecida também por PARR (em inglês
OARS), o método consiste em:
P- Perguntas abertas; A- Afirmar; R - Reforço Positivo; R -
Refletir; R - Resumir.
• Perguntas abertas: Uma forma de começar a terapia é
fazer perguntas de modo que encoraje o cliente (paciente) a falar o máximo
possível. Perguntas abertas são aquelas que não podem ser respondidas
facilmente com uma palavra ou frase simples. Na entrevista motivacional não é
recomendado o uso demasiado de perguntas, sobretudo de forma consecutiva. A
ideia é sempre fazer uma pergunta para cada duas outras estratégias, de
preferência com o uso de reflexões.
• Afirmar – reforço positivo: O reforço positivo é
uma das peculiaridades na entrevista motivacional. Ele pode ser realizado por
meio de apoio, elogios e oferecimento de apreciação e compreensão por parte do
profissional. O reforço positivo tem que ser feito de forma verdadeira, caso
contrário, ele pode servir como uma barreira para realmente escutar, acolher e
compreender o cliente (paciente).
• Refletir: É a principal estratégia da EM e deve ser
utilizada durante a fase inicial do tratamento, principalmente entre os
clientes (pacientes) ainda muito ambivalentes em relação à mudança. Para
avaliar se a reflexão foi feita de maneira efetiva, basta analisar a reação do
cliente (paciente): se expressa concordância, não apresenta postura defensiva,
se sente estimulado a falar mais, apresenta uma postura verbal mais relaxada ou
motivada.
• Resumir: Resumos podem ser utilizados para conectar
os assuntos que foram discutidos, demonstrando que você ouviu, escutou seu
cliente (paciente), funcionando como estratégia para que se possa organizar
suas ideias. Os resumos podem ser utilizados em vários momentos da sessão, ou
seja, quando o cliente (paciente) analisa várias ideias ao mesmo tempo e o
profissional tenta conectá-lo para que ele reflita e tenha melhor compreensão.
Além de funcionar para o cliente (paciente) de que está sendo ouvido
atentamente pelo profissional, gera menor resistência.
Portanto, a entrevista motivacional é considerada uma
abordagem útil e eficaz para uma grande variedade de problemas comportamentais,
e também para o tratamento do uso, abuso e dependência de substâncias
psicoativas. Consiste em uma intervenção relativamente breve, compatível com os
tratamentos usuais para dependentes químicos, até mesmo para aqueles com
histórico de desistência de tratamentos anteriores. Conter o uso e abuso e
tratar a dependência de drogas implica mudanças de comportamento e constitui em
enorme desafio para profissionais das diversas áreas envolvidas no tratamento
da dependência química.
A EM é uma maneira eficaz de motivação, preparação e
tratamento, e que promove uma mudança de comportamento consistente e duradoura,
promovendo assim a autonomia necessária ao dependente químico para condução de
sua própria vida.
Vale a observação de que a EM é aplicada comumente em
pacientes que ainda não perderam totalmente o controle de seus atos ou que
recaíram após período de sobriedade.
E igualmente aplicada por pessoas portadoras da doença da
dependência química, sendo independente seu lugar neste artigo.
Vale outra observação: indivíduos têm escolha.
Siga em Frente.
Saudações.
Não deixem de publicar seus comentários, eles são importantes para nosso trabalho, ficaremos felizes em recebe-los e respondê-los.
Não deixem de publicar seus comentários, eles são importantes para nosso trabalho, ficaremos felizes em recebe-los e respondê-los.
Fábio Augusto Bento
Freitas
Terapeuta em
Dependência Química, cursando Serviço Social na Universidade Estácio de Sá
Maravilhoso tema meu amigo.
ResponderExcluirA EM é realmente uma ferramenta fantástica, se for aplicada de maneira adequada promoverá um excelente resultado na pessoa assistida. obrigado pelo texto
Muito obrigado.
ExcluirMais uma matéria espetacular, conteúdo enriquecedor e que pode ser aplicado tbm a pessoas "normais" que passam por problemas psicológicos e que, infelizmente, na atual situação de quarentena mundial, esse fator ter crescido exponencialmente.
ResponderExcluirParabéns Fábio por trazer mais um conteúdo tão interessante.
Muito obrigado.
ResponderExcluirCompleto seu texto.. Esta técnica permite " navegar" com o paciente respeitando seu momento...Ela traz bons resultados...Utilizo bastante principalmente com aqueles que ainda estou resistentes...
ResponderExcluirMuito obrigado, Dra Silvana.
ResponderExcluirTexto impecável, muito bom Fábio
ResponderExcluirObrigado, Henrique. Volte sempre ao blog.
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